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“OS CASTELOS”: Uma série da TVG


Reconstrucão 3D do castelo da Rocha Forte, por Trasancos 3D. Projecto realizado para o documental "Os Castelos" da CRTVGalicia segundo a assessoria de Javier Luaces, arqueólogo municipal de Santiago de Compostela.

Um artigo original de 'Repensando a Idade Média',


“OS CASTELOS”: SÉRIE DA TVG O canal Televisión de Galicia tem ultimamente, com a ajuda de medievalistas galegos bastante conceituados, exibido uma série de documentários sobre os castelos medievais e, a reboque, da sociedade senhorial no território que a partir do século XII formaria o Reino da Galiza. Apesar de estereótipos ocasionais, a qualidade é geralmente muito boa e julgamos ter interesse acrescido para os portugueses dadas as semelhanças e diferenças no tipo de fortificações construídas, nas suas diversas funções e na evolução social em dois espaços vizinhos e muito próximos.

Reconstrucão 3D do castelo da Rocha Forte, por Trasancos 3D. Projecto realizado para o documental "Os Castelos" da CRTVGalicia segundo a assessoria de Javier Luaces, arqueólogo municipal de Santiago de Compostela.

Se efectivamente até ao século XII, não há grandes diferenças entre o Norte de Portugal e a Galiza no que se refere ao poder exercido pelos tenentes e outros nobres sobre as suas fortificações, e se partilham uma série de outras semelhanças em variados aspectos relativos à sua construção, localização ou à primazia do seu papel bélico, a partir do século XIII surgiram divergências assinaláveis entre os dois espaços. Enquanto na Galiza os senhores leigos e eclesiásticos mantiveram uma elevadíssima liberdade de acção e autonomia face à monarquia castelhano-leonesa e os castelos eram símbolos do seu poder senhorial, em Portugal a nobreza parece geralmente ter abandonado a vivência nos castelos de forma bastante precoce e afirmou-se lentamente entre os reinados de Sancho I e Dinis a ideia de que só o rei poderia autorizar a construção de castelos e de que todos os alcaides – incluindo os de fortificações em mãos privadas - lhe deveriam prestar menagem, ao mesmo tempo que as tenências caíram em desuso na segunda metade do século XIII e boa parte dos castelos “cabeça de terra” acabaram abandonados até ao século XIV. Ou seja, em finais da Idade Média, em Portugal temos um caso extremo em que a monarquia controlava de forma directa ou indirecta praticamente todas as estruturas e em que processos neo-senhoriais nos séculos XIV-XV como a residencialização de algumas fortificações se enquadram em processos de arrticulação entre o poder central e certas camadas da nobreza. Isto talvez também seja um factor adicional que ajuda a explicar como, apesar de em ambos os lados da fronteira minhota os homens dos alcaides oprimissem fortemente as populações locais, os castelos portugueses sobreviveram em tão grande número enquanto na Galiza, depois de boa parte acabar arrasado pelas revoltas irmandinhas, os Reis Católicos optaram uns anos mais tarde por demolir a maioria dos restantes para eliminar potenciais focos regionais de oposição nobiliárquica.

Reconstrucão 3D do castelo da Rocha Forte, por Trasancos 3D. Projecto realizado para o documental "Os Castelos" da CRTVGalicia segundo a assessoria de Javier Luaces, arqueólogo municipal de Santiago de Compostela.

Em anexo, a reconstituição do castelo da Rochaforte, o imponente castelo senhorial construído pelo arcebispo João Árias de Compostela algures em meados do século XIII, realizada pela Trasancos 3D com base nos dados arqueológicos existentes e também mostrada no programa televisivo. Por ser local de residência frequente dos arcebispos compostelanos e o centro militar, fiscal e financeiro a partir do qual era exercido o seu poder senhorial sobre o seu couto compostelano, incluindo toda uma série de abusos, acabou destruído depois de um duro cerco pela rebelião dos irmandinhos em 1467. Uma nota ainda para a torre de menagem no centro. Apesar de esta característica ser tradicionalmente interpretada como marca de uma fortificação românica, é ainda bastante comum na segunda metade do século XIII nas primeiras fortificações góticas, tal como de resto se pode observar nas reconstruções coevas dos castelos de Melgaço e Guimarães no Norte de Portugal. Ou seja, o desenvolvimento da “defesa activa” foi um processo que se desenvolveu lentamente nos séculos XII-XIII e não se deve classificar um castelo de forma estanque baseado apenas no facto de a torre de menagem estar situada no centro da praça de armas ou num canto da muralha a fazer de suporte.

Ligação para o documentário:

~ José (Repensando a Idade Média)


Reconstrucão 3D do castelo da Rocha Forte, por Trasancos 3D. Projecto realizado para o documental "Os Castelos" da CRTVGalicia segundo a assessoria de Javier Luaces, arqueólogo municipal de Santiago de Compostela.

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