Mudança de Calendário, da Era de César para a Era de Cristo
- InfoBlog de JD
- 15 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2021
Um artigo original de 'Repensando a Idade Média':
Mudança de Calendário: da Era de César para a Era de Cristo.
Agora que vivemos em plena época Natalícia e nos aproximamos do fim do ano, é interessante explicar como começámos a contar os anos desde o nascimento de Cristo, e que outro tipo de calendários existiram no passado. O caso ibérico é paradigmático visto que até finais do Medievo a contagem não correspondia à cronologia que hoje usamos para contar os anos da nossa Era.
Na Península Ibérica usava-se a Era de César ou Era Hispânica, desde o século V, não se sabendo exactamente quais as razões para a contagem dos anos ser feita dessa forma, suspeitando-se que terá que ver com o reconhecimento da autoridade de Caio Júlio César Octaviano, o futuro imperador Augusto, no fim da guerra civil do segundo Triunvirato, e consequente apaziguamento da Península mostrada na famosa expressão "pax romana", ou então estará relacionado com algum tipo de imposto lançado por essa altura, mas não há certezas.

A Era de César começa a sua contagem a partir do ano 715 da Fundação de Roma, ou seja, 38 anos antes da data do nascimento de Cristo, logo, é necessário subtrair-se esses mesmos 38 anos para converter uma data para a Era de Cristo, ou Anno Domini.
Alguns exemplos:
- Carta de Foral concedida por D. Afonso Henriques "feita a carta em Coimbra no mês de Maio da Era de 1217”:
[1217 - 38 = 1179 Anno Domini].
- Confirmação feita por D.Sancho I "feita esta carta em Guimarães no mês de agosto na Era de 1242”:
[1242 - 38 = 1204 Anno Domini].

A utilização da Era de Cristo na restante Europa tornou-se corrente durante o Alto-Medievo após se espalhar desde Itália: a Inglaterra a aplica a partir do século VII, e em França se torna comum desde o ano 1000, mas não na Península Ibérica, onde a Era de César continuou a ser aplicada até ao Medievo tardio, começando a ser abandonada lentamente; pouco a pouco, deixou de ser usada para datar os documentos e monumentos. E é precisamente pelas inscrições que ainda se conservam, em Igrejas, castelos e outros edifícios, que constatamos o seu abandono gradual: na Catalunha foi abandonada por volta do ano 1180; em Navarra deixou de ser referida em 1234, em Aragão em 1350 e em Valência em 1358. Por seu turno, em Castela e Leão vigorou até às cortes de Segóvia em 1387. Refira-se, não obstante, que até ao início do século XVII o uso da Era Cristã não se generalizou por completo em todo o território da Península.
Já Portugal foi o último reino a trocar a Era de César para a Era de Cristo, apenas no reinado de D.João I, por decreto de 22 de Agosto de 1422.
Artigo de Pedro Alves.
Oliveira Marques também trata este tema de uma forma bastante boa para leigos nos seus livros, nomeadamente em seu livro "A Sociedade Medieval Portuguesa".


Fontes bibliográficas:
Luís Oliveira Andrade, Luís Reis Torgal (2012). Feriados em Portugal: tempos de memória e de sociabilidade: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Juan Manuel Abascal, La Era Consular Hispana y el final de la práctica epigráfica pagana, en Lucentum XIX-XX, 2000/2001.
Topper, op. cit. Adriano Cappelli, Cronologia, cronografia e calendario perpetuo. Dal principio dell'era cristiana ai nostri giorni, Milán: Editore Ulrico Hoepli, 1988, ISBN 88-203-1687-0
É surpreendente que 38 anos possam estar a comprometer a confiabilidade da datação dos acontecimentos. É o caso da pretensa data de início de construção do castelo de Leiria - 1135 - o que é dado por certo sem contestação. Então será que então é datação pela era de Cesar ou era Hispânica em uso e que então é 1135 d.c. (anno Domini)? Ou a data ´memorável' de 1143 do tratado de independencia de Portugal é a 1181 da era de Cesar ou anno Domini?.