Cargos e Dignidades da Casa Real Portuguesa
- InfoBlog de JD
- 19 de abr. de 2019
- 6 min de leitura
Atualizado: 24 de abr. de 2019
Por: JOSÉ J. X. SOBRAL

A Casa Real Portuguesa era o organismo que geria os assuntos privativos do Rei e da Família Real de Portugal.
Na Idade Média, não existia uma clara separação entre os assuntos privativos do Rei e os assuntos do Reino. Assim, de certo modo, a Casa Real funcionava como o governo central do Reino. Muitos dos seus funcionários acabaram por se ocupar de toda a governação do Reino e não apenas da gestão de assuntos familiares. Por exemplo, o mordomo-mor, como administrador-chefe da Casa Real, desempenhou as funções de um autêntico primeiro-ministro do Reino.
Á medida que a administração da Casa Real - e do Reino - se tornava mais complexa, foram sendo criados cargos e funções cada vez mais especializadas. Os detentores desses cargos e funções, por estarem tão perto do Rei, tornaram-se as suas pessoas de confiança, sendo acrescentadas à Nobreza. Alguns cargos tornaram-se exclusivos da Alta Nobreza e acabaram por se tornar meras dignidades honoríficas. As suas funções formais passaram a ser desempenhadas, no dia a dia, por funcionários subalternos.
É, aqui, apresentada a lista de grande parte dos cargos e dignidades existentes na Casa Real Portuguesa, separados pelas várias áreas de especialidades. De observar que esta lista é anacrónica, apresentando alguns cargos e dignidades que não coexistiram na mesma época.
Oficiais da Casa Real
- Mordomo-mor - primeiro oficial da Casa Real, superintendia na sua administração. Até ao século XIII, chefiava o governo do Reino. Estavam-lhe subordinados os moradores e criados da Casa Real: ;
Moços (de guarda-roupa, da capela, porteiros, reposteiros, etc.) - primeiro acrescentamento dos criados;
Escudeiros - segundo acrescentamentos dos criados;
Moços de câmara - primeiro acrescentamento do foro dos moços de câmara
Escudeiros fidalgos - segundo acrescentamento dos moços de câmara;
Cavaleiros fidalgos - terceiro acrescentamento dos moços de câmara;
Moços fidalgos - primeiro acrescentamento do foro dos moços fidalgos;
Fidalgos escudeiros - segundo acrescentamento dos moços fidalgos;
Fidalgos cavaleiros - terceiro acrescentamento dos moços fidalgos;
Fidalgos do conselho - quarto acrescentamento dos moços fidalgos, só atribuído excepcionalmente.
Era título anexo aos arcebispos e bispos, priores-mores de Aviz e Sant'Iago, inquisidores do Conselho Geral do Santo Ofício, Condes, Desembargadores do Paço, Chanceleres da Casa da Suplicação de Lisboa e da Relação do Porto, Reitor da Universidade de Coimbra, Governadores do Algarve, Praças de África, Brasil e Angola e monsenhores prelados da Igreja Patriacal;
Oficiais da câmara dos Reis
- Camareiro-mor - segundo oficial da Casa Real, responsável por vestir e despir o Rei, dormindo aos pés do seu leito. Estavam-lhe subordinados:
Gentis-homens da câmara - criados de Câmara
- Sumiler - responsável por cerrar a cortina da cama do Rei
- Reposteiro-mor - responsável por chegar a almofada ou a cadeira ao Rei quando ele se sentava ou se ajoelhava. Estavam-lhe subordinados os:
Reposteiros - responsáveis por correr as cortinas da Câmara
- Escrivão da Câmara - secretário da Câmara;Físico-mor - médico do Rei
- Cirugião-mor - cirurgião do Rei
- Capelão-mor - capelão da Casa Real.
Oficiais da fazenda
- Vedor da Casa - administrador financeiro da Casa Real, substituindo o mordomo-mor, nos seus impedimentos.
- Contador-mor - contabilista da Casa Real
- Tesoureiro-mor - tesoureiro da Casa Real
- Escrivão da Fazenda - secretário da Fazenda
- Esmoler-mor - encarregado das esmolas Reais.
Oficiais da Guarda
- Guarda-mor da Casa - responsável pela segurança imediata do Rei, dormindo à porta do seu quarto. Estavam-lhe subordinadas:
Capitão da guarda - comandante da Guarda de Câmara, composta por 20 cavaleiros, que dormiam junto ao quarto do Rei
Capitão dos ginetes - comandante da Guarda de Ginetes, composta por 200 cavaleiros, armados com lanças e adargas, que acompanhavam o Rei nas suas deslocações
Capitão da Companhia Portuguesa de Alabardeiros da Guarda Real - comandante da guarda de alabardeiros a pé, composta por portugueses
Capitão da Companhia Alemã de Alabardeiros da Guarda Real - comandante da guarda de alabardeiros a pé, composta por alemães.
Oficiais da Mesa dos Reis
- Trinchante - cortava a carne e chegava os pratos ao Rei
- Uchão de el-Rei - chegava os pratos ao trinchante e mandava guardar a caça na dispensa da Casa Real (ucharia)
- Servidor da toalha - colocava os pratos na mesa
- Mantieiro - retirava os pratos depois do Rei comer
- Copeiro-mor - servia as bebidas ao Rei. Também baptizava os novos funcionários reais, na sua tomada de posse. Estava-lhe subordinado o:
Copeiro-menor - responsável por receber do copeiro-mor, os copos já utilizados pelo Rei
- Moços da câmara - criados de primeiro nível que traziam os pratos da cozinha para a sala
- Prestes da cozinha - criados de segundo nível que traziam os pratos da cozinha para a sala
- Mestre-sala - dirigia o cerimonial em actos solenes
Oficiais do Estado dos Reis
- Estribeiro-mor - superintendia o funcionamento das cavalariças reais, fornecendo os cavalos e as carruagens. Estavam-lhe subordinados os:
Moços da estribeira - criados das estrebarias
- Porteiros da cana - precediam o cortejo real, a cavalo
- Aposentador-mor - responsável pelo alojamento do Rei e das restantes pessoas da Corte, quando em viagem
- Almotacé-mor - responsável por prover, a Corte, de alimentos
- Correio-mor - chefe dos serviços postais do Reino
- Coudel-mor - governador das coudelarias reais, superintendendo a procriação e o aperfeiçoamento das raças de cavalos.
Oficiais da caça dos Reis
- Monteiro-mor - superintendia nas caçadas e nas coutadas reais. Estavam-lhe subordinados:
Monteiros de cavalo - guardas a cavalo das coutadas
Monteiros de pé - guardas a pé das coutadas
Moços do monte - criados que ajudavam nas caçadas
- Caçador-mor - responsável pela caça às aves
- Falcoeiro-mor - responsável pelo adestramento de falcões e outras aves de rapina, para a falcoaria.
Oficiais militares
- Condestável de Portugal - comandante-chefe do Exército
- Marechal de Portugal - 2º comandante e responsável logístico do Exército
- Alferes-mor - porta-Bandeira Real. Comandante do Exército até ao século XIV. Estava-lhe subordinado:
Alferes-menor - levava a Bandeira Real, quando o alferes-mor comandava o Exército;
- Adail-mor - comandante-geral da Cavalaria
- Anadel-mor - comandante-geral da Infantaria. Estavam-lhe subordinados:
Anadel dos besteiros da câmara - comandante dos besteiros do Rei
Anadel dos besteiros a cavalo - comandante dos besteiros a cavalo
Anadel dos besteiros do conto - comandante dos besteiros dos concelhos
Anadel dos espingardeiros - comandante dos espingardeiros
- Capitão-general das Ordenanças - comandante-geral das tropas territoriais
- Almirante de Portugal - comandante das galés reais. Chefe de toda a Marinha até ao século XIV.
- Almirante da Índia - comandante da Marinha no oceano Índico
- Capitão-mor do Mar - comandante da Marinha oceânica
- Vedor-mor de artilharia - comandante-geral da Artilharia
- Mestre de Avis - mestre da Ordem de São Bento de Avis
- Mestre de Sant'Iago - mestre da Ordem de Sant'Iago da Espada
- Mestre de Cristo - mestre da Ordem de N. Sr. Jesus Cristo.
Oficiais de cerimónias
- Porteiro-mor - responsável por abrir a porta da sala onde se encontrava o Rei. Estavam-lhe subordinados os:
Porteiros da maça - precediam os cortejos a pé
Porteiros da cana - precediam o cortejo real, a cavalo
- Rei de armas Portugal - principal oficial de heráldica. Estavam-lhe subordinados os:
Rei de armas Algarve - oficial heráldico de 1º nível
Rei de armas Índia - oficial heráldico de 1º nível
Arauto Lisboa - oficial heráldico de 2º nível
Arauto Silves - oficial heráldico de 2º nível
Arauto Goa - oficial heráldico de 2º nível
Passavante Santarém - oficial heráldico de 3º nível
Passavante Tavira - oficial heráldico de 3º nível
Passavante Coxim - oficial heráldico de 3º nível
Escrivão da Nobreza - subscrevia as cartas de armas
Armeiro-mor - encarregado dos livros de registo das armas.
Oficiais principais do governo
- Chanceler-mor - guarda do selo real, encarregado de verificar as provisões expedidas pelo Desembargo do Paço. Tornou-se o chefe de governo, entre os séculos XIII e XVII. Estavam-lhe subordinados:
Livradores do desembargo - letristas, responsáveis pela preparação dos assuntos a serem decididos
- Secretário de el-Rei - secretário pessoal do Rei
- Corregedor da Corte para o Cível - procurador judicial para os assuntos civeis
- Corregedor da Corte para o Crime - procurador judicial para os assuntos criminais
- Meirinho-mor - magistrado encarregado de aplicar a justiça aos nobres e fiscalizar a aplicação da justiça nas terras senhoriais.
Oficiais de administração e justiça
- Sobrejuiz ou ouvidor do crime - juiz superior para os assuntos criminais
- Sobrejuiz ou ouvidor do cível - juiz superior para os assuntos civeis
- Vedor da Fazenda - encarregado da administração financeira e económica do Reino
- Corregedores - governadores administrativos e judiciais das comarcas
- Almoxarifes - administradores fiscais dos almoxarifados.
- Alcaides-mor - representantes do Rei numa terra. Estavam-lhe subordinados os:
Alcaides pequenos - que representavam o Alcaide-mor, quando este não se encontrava na sua terra.
Oficiais da Casa da Rainha
- Mordomo-mor da Rainha - administrador da Casa da Rainha
- Escrivão da Rainha - secretário da Rainha
- Reposteiro-mor da Rainha - responsável pela câmara da Rainha
- Vedor da Casa da Rainha - administrador financeiro da Casa da Rainha.
Oficiais da Casa do Príncipe
- Governador da Casa do Principe - administrador da Casa do Príncipe
- Camareiro do Príncipe - responsável pela câmara do Príncipe
- Vedor da Casa do Príncipe - administrador financeiro da Casa do Príncipe
- Capitão da Companhia de Alabardeiros da Guarda do Príncipe - comandante da guarda de alabardeiros a pé do Príncipe.
Artigo escrito por José J. X. Sobral.
Fonte: JOSÉ J. X. SOBRAL
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