Ascensão da Economia Moderna, o fim do século XIV
- InfoBlog de JD
- 25 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2021
Um artigo original de 'Repensando a Idade Média':
Ascensão da Economia Moderna - O Fim do Século XIV

A economia durante a idade moderna possui suas análises baseadas em uma ideia de transição de uma economia feudal para uma economia capitalista. O debate historiográfico durante essa transição econômica está quase que exclusivamente concentrado no desenvolvimento econômico das cidades no período medieval, em detrimento da análise de uma economia rural, que seria uma característica da idade média.
O século XIV, importante por ser um dos séculos finais da idade média, é marcado por um sentimento de decadência, principalmente devido a alguns desastres naturais, guerras e pestilência. As guerras, particularmente, afetaram a economia rural de uma forma nociva, já que os bandos de soldados de ofício, geralmente mercenários, atacavam as regiões campesinas em busca de comida, levando a saques corriqueiros que alteravam negativamente a produção rural. Esse fator, em conjunto com os desastres naturais e a pestilência, principalmente a peste negra que assolou a Europa, levaram a uma queda demográfica vertiginosa, já que a produção de comida era pouca e cada vez menos pessoas estavam envolvidas nesse processo.
Por mais que esse tipo de fenômeno tenha tido consequências que variaram de acordo com a região europeia, no geral, essas calamidades só duraram até o final do século XV. Anterior a esse período de recuperação, a sua marca não foi somente a queda demográfica da zona rural, mas também um consequente aumento de preços dos cereais, que abaixaram consideravelmente durante o período da peste. A queda nos preços desses produtos foi acompanhada de um aumento salarial dos camponeses.
Um dos motivos principais por trás desse evento, além daqueles que marcaram a crise do século XIV, foi o êxodo rural. Em busca de melhor proteção das eventuais guerras e outras calamidades, os camponeses migraram para as aglomerações urbanas, que sofreram um aumento populacional no período. Isso também contribuiu para o aumento de salários dos camponeses e queda dos preços dos cereais. A grande discrepância entre os preços e salários afetou diretamente o estabelecimento do domínio senhorial, ameaçando e causando uma crise em sua gerência. No entanto, isso não quer dizer que as empresas rurais familiares e as manufaturas têxteis tenham sofrido da mesma mazela.
A crise política do senhorio feudal foi ocasionada não somente pelas sucessivas guerras, que induziu aos senhores a gastar sua fortuna como uma forma de reafirmar seu poder sobre os camponeses, naquele momento especialmente rebeldes, mas também pelo aumento do controle fiscal para a realização do mesmo fim. O maior controle senhorial da economia e seus gastos cada vez maiores para a manutenção dessa burocracia, em conjunto com a manutenção e reparação de forças de guerra, contribuíram para a falência do senhorio feudal. Esse fenômeno, no entanto, não foi geral para os principados medievais, onde as propriedades eclesiásticas e a região da Itália setentrional presenciaram uma grande prosperidade e evitaram esse evento.
O controle maior do senhorio, seja através de maior burocracia, ou maior garantia de poder aos líderes locais, contribuiu para uma cada vez maior exploração da mão de obra rural, que coincidiu com o fato dela começar a se tornar assalariada. Uma outra tenebrosa coincidência, foi a incidência dessas calamidades do século XIV, que afastaram os senhores de suas terras e diminuíram suas rendas, no que contribuiu para a falência do senhorio feudal. A quebra desse poder, em conjunto com fome e as guerras, causaram diversas revoltas entre os camponeses que, ao invés de visar a fortuna dos senhores, visavam um retorno aos modos antigos, sendo essa uma luta contra a demasiada exploração em um período de crise para determinados senhores feudais.
A abordagem liberal do processo de transição da economia feudal para o capitalismo é de que esse último foi uma consequência natural do comportamento humano de acúmulo de capital. Dessa forma, o capitalismo seria parte de uma “ordem natural” cuja transição foi uma melhora em consideração ao feudalismo. Isso, claramente, faz parte do tipo de pensamento iluminista com o qual os pensadores liberais, principalmente Adam Smith, estava calcado na época em que essa teoria foi desenvolvida, no século XVIII. É importante ressaltar, no entanto, de que essa transição foi um processo, ocasionado pelas condições adversas que permearam a Europa no século XIV, e que, independentemente das definições de capitalismo, não ocorreu nenhuma inclinação natural do ser humano para acumular capital, mas um processo histórico que concentrou população nos centros urbanos, propiciando o surgimento de uma classe burguesa que, ao invés de concentrar terras, concentrava capital.
-Daniel Pradera
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