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A Muralha medieval de Lisboa

Atualizado: 12 de out. de 2021

Um artigo original de 'Repensando a Idade Média',


"Lisboa, cidade do Al-Andalus" (pintura de Roque Gameiro, século XIX). Uma brilhante representação da vista da cidade islâmica. No século XI, Lisboa teria à volta de 15.000 habitantes e era das maiores urbes do Gharb Al-Andalus, junto com Coimbra, Évora e Silves.

Muralha medieval de Lisboa (Século XI - 2018): crescimento e abandono de um dos maiores monumentos da capital de Portugal.


Antes de mais, queria agradecer a ajuda do professor Miguel Gomes Martins, membro do Repensando e um dos maiores medievalistas portugueses, o seu contributo foi extremamente importante na recolha de fotos e informação sobre as torres e trechos de muralha ainda sobreviventes desse complexo de defesa da maior cidade do reino.


Existem três grandes períodos de construção defensiva ainda sobreviventes: a chamada cerca "moura", mais antiga. A cerca de D.Dinis (de fins do século XIII, inícios do século XIV) e a muralha "Fernandina", da década de 1370.

Hoje em dia, infelizmente, a cerca sobrevivente é completamente ignorada, desprezada e abandonada pelos poderes locais da cidade, sendo que não existem quaisquer informações sobre a sua história para os turistas que visitam Lisboa. Além disso, a Câmara Municipal ainda aceita e promove a sua demolição, mas já lá vamos, antes disso façamos um périplo pela sua cronologia.


CERCA "MOURA" (século IV D.C - século XIII):

A cerca velha de Lisboa, erroneamente conhecida por cerca "moura", trata-se da primitiva muralha de Lisboa e remonta ao final da época romana. Defendia o núcleo urbano da cidade de Lisboa na época medieval, desde os períodos Suevo, Visigótico e Islâmico até à construção da muralha Fernandina, já no século XIV. Ficou mais conhecida por cerca "Moura" por se julgar até há pouco tempo que a sua construção datava do período muçulmano, quando na verdade estes apenas reforçaram e mantiveram o traçado do anterior período Romano. A cerca velha nascia no Castelo de São Jorge nas proximidades da Porta de São Jorge, e pela Porta da Alfôfa descia por São Crispim, Sé, e Rua das Canastras à Porta do Mar antiga; ia correndo beiramar até São Pedro de Alfama, donde, pela Adiça, subia à Porta do Sol, a incorporar-se com a do Castelo, junto à Porta de D. Fradique. Contava a cerca moura com doze portas, para sua serventia. Ainda existentes temos a porta de Martim Moniz, a porta do Chafariz d'el-Rei, a porta do Mar a São João, a porta de São Pedro e a porta do Arco Escuro.


Trecho da Cerca Velha (século IV d.C - Século XII). Este pedaço liga ao castelo de São Jorge e protegia os bairros da cidade alta, no morro. Originalmente do período romano, teve sem dúvida reconstruções na época muçulmana e após a conquista de Lisboa em 1147. Um pouco mais adiante termina na porta da Alfôfa.

Porta do Mar, ou Arco Escuro (Cerca velha, século XI). Encontra-se na Rua dos Confeiteiros, defronte da porta travessa da Igreja da Conceição Velha. É também denominada por Postigo da Rua das Canastras, por ficar no fim desta rua. Essa porta dava directamente para o rio e terá sido aberta durante o período Islâmico.

Porta do Mar a São João, ou Arco de Jesus (Cerca Velha, século XI). Esta porta sobrevive ainda, junto ao Campo das Cebolas. Está situada na frente do Cais de Santarém, sendo também conhecida pelo nome de Arco de Jesus em razão de um quadro do Menino Jesus que nela houve. Por esta porta entraram em Lisboa as hostes de cruzados germânicos e flamengos que auxiliaram D.Afonso Henriques na conquista da cidade.

Muralha junto à rua do Conde de Linhares, Alfama (Cerca Velha, século XI). Esse telhado que desce era originalmente a escadaria que dava acesso ao adarve da muralha, cuja forma foi aproveitada, dando esse aspecto curioso.

Trecho da Cerca Velha (século XI). Essa muralha corre desde a rua de São João da Praça onde, pela Adiça, sobe à Porta do Sol, a incorporar-se com a do Castelo, junto à Porta de D.Fradique.

Torre de Alfama (Cerca Velha, século XI). Essa torre se encontra a meio caminho entre a Porta da Alfôfa e a rua de São Crispim. A muralha descia depois até à Sé, Rua das Canastras e à Porta do Mar.

Muralha da Judiaria (Cerca Velha, século XI). Esse trecho delimitava o gueto judaico de Lisboa durante o período Islâmico e tardo-medieval. No século XIV foi aproveitada como parede da Sinagoga antiga, que ainda hoje se encontra no local, como atestam as janelas.

Torre de São Pedro. (Cerca Velha, século XI). Poderá ser uma torre albarrã ou uma torre couraça, que ainda hoje se mantém, na sua quase totalidade, ligada à muralha principal por um pano de muro com 26m de comprimento, o qual é bem visível na rua da Judiaria. Esta torre protegia a entrada para o interior da Medina, que era conhecida em época árabe como Bab al-Hamma, Porta dos Banhos. Este nome explica a etimologia de Alfama, visto que, perto desta entrada da cidade, estariam localizados, muito provavelmente, os banhos públicos (Hammam) de Al-Ušbuna. Na realidade, ainda hoje, esta zona específica de Alfama é rica em fontanários, aí existindo também alguns balneários públicos.

Porta da Estrebaria d'El-Rei (Cerca Velha, século XI). Localizada no Rossio, para o qual deitava a fachada, entre o Palácio da Inquisição e o Palácio do Duque de Cadaval, por entre o qual subia a muralha a unir-se à da Porta do Condestável, hoje desaparecida.

Postigo do Arco dos Pregos (Cerca Velha, século XI). Junto ao beco da Cardosa, que dá nome a este Beco que une a Rua de São Miguel à Rua do Castelo Picão terá sido, provavelmente, Isabel ou Maria Rodrigues Pereira, casada com Gonçalo Cardoso. Este arruamento aparece já referido nas descrições paroquiais da Freguesia de São Miguel imediatamente anteriores ao Terramoto de 1755, embora deva ser anterior a essa data uma vez que, de acordo com Gomes de Brito, o nome do beco se refere, provavelmente, à irmã de Justa Rodrigues Pereira (Portalegre ou Beja/c. de 1420 ou 1441 – c. de 1514/Setúbal), fundadora das Clarissas do Mosteiro de Setúbal após ter tido dois filhos com o bispo de Ceuta e da Guarda, Frei João Manuel.

Muralhas da Porta do Sol (Cerca Velha, século XI). Este trecho fica contígua à Igreja de São Brás da Ordem de Malta, hoje vulgarmente chamada de Santa Luzia, cujo campanário edificaram sobre a muralha que vai pela Adiça a São Pedro, entre duas antigas torres. Em meados do século XVIII encontrava-se ainda no adro da Igreja de São Brás, sobre uma sepultura, uma grande bala de pedra, atirada pelos mouros às forças de D.Afonso Henriques com as suas catapultas pedreiras, de que usaram na última defesa desta cidade, aquando da sua conquista.

Porta do Martim Moniz (Cerca Velha, século XI). A Porta do Moniz ou Porta de Martim Moniz, tendo sido também conhecida por Porta do Norte, é a terceira porta da muralha do castelo. Segundo a tradição, nesta porta se atravessou e morreu o valoroso capitão de D.Afonso Henriques, Martim Moniz, para facilitar a entrada aos portugueses durante a Conquista de Lisboa. Diz-se que D.Afonso Henriques, para memória de tão ilustre feito, mandou colocar no alto dela uma perfeita cabeça, de fino mármore, sob a qual há a seguinte inscrição: “ElRei Dõ Afonso Henriques mandou aqui colocar esta statua e cabeça de pedra em memoria da gloriosa morte que Dõ Martï Moniz progenitor da familia dos Vasconcelos recebeu nesta porta quando atravessando-se nela franqueou aos seus a entrada com que se ganhou aos Mouros esta cidade no ano de 1147. João Roiz de Vasconcelos e Sousa Conde de Castelmelhor seu decimoquarto neto por baronia fes aqui por esta inscripsão anno de 1646"

Porta de São Jorge (Cerca Velha, século XI). Principal porta de entrada no castelo de São Jorge, após atravessá-la, do lado esquerdo, existe um nicho com uma imagem do padroeiro. Aqui residia o corpo da guarda antes do terramoto de 1755. No século XIX foi alvo de reconstrução, tendo o seu aspecto actual sido resultado dessas obras.

Postigo de São Pedro (Cerca Velha, século XI). Aí perto, como explica o director do departamento de Património Cultural da câmara, Jorge Ramos Carvalho, foram feitas escavações que revelaram a existência de uma lixeira do período romano. Alguns dos vestígios encontrados, como ossos de vários animais, vegetação, cerâmicas, materiais de construção e ostras, podem hoje ser vistos no interior de um restaurante que abriu as portas no local e no qual foram integrados troços da muralha.

Maquete de Lisboa durante o período Islâmico (século XI). Chamada de Al-Ushbuna, a cidade teve um grande crescimento nessa época, passando das antigas muralhas Romanas e do morro do castelo para os arrabaldes, como se pode ver nesta reconstituição. Seria mais ou menos este aspecto que Lisboa teria quando foi conquistada por D.Afonso Henriques em 1147.

Percurso pedonal da Cerca Velha com as partes ainda sobreviventes, incluindo portas e torres.

MURALHA DE D.DINIS (séculos XIII-XIV):

Com o desenvolvimento e crescimento de Lisboa nos cento e cinquenta anos que se seguiram à conquista da cidade pelos Cristãos o arrabalde ocidental torna-se um importante centro mercantil, afastando-se, contudo, da protecção que a Cerca Velha conferia. Em face do potencial perigo que as incursões oriundas da entrada do rio Tejo poderiam causar, pretendia-se agora garantir a defesa da área que fora sendo conquistada ao rio. É nesta Lisboa, ainda presa ao passado medieval mas em processo acelerado de expansão, agitada e cobiçada, que, no ano de 1294, nascerá uma nova fortificação na Ribeira, a que hoje chamamos de D.Dinis.

Construída entre o referido ano de 1294 e a primeira década de 1300, esta pode associar-se à necessidade prioritária de defender apenas as margens desprotegidas do Tejo, em particular a Rua Nova dos Mercadores, alvo preferencial dos ataques exteriores. Ao não delimitar o perímetro da cidade, mas criando apenas um dique na zona baixa, é possível presumir-se que as eventuais incursões poderiam ser obstaculizadas simplesmente pela colocação de uma barreira física e, assim sendo, que os expectáveis ataques teriam um carácter pouco estruturado e efémero. Num ataque em larga escala, com cerco, a zona norte estaria completamente desprotegida, sendo a criação de uma barreira física a sul pouco ou nada eficaz. Este problema apenas será resolvido com o gigantesco investimento feito na Cerca Fernandina passados apenas 80 anos, em 1373-75, o que não deixa de lhe conferir um tempo de vida curto enquanto estrutura defensiva. Este fenómeno entender-se-á à luz das questões estratégicas de uma época marcada pelo clima de disputas com Castela. Já no séc. XIV, as tropas castelhanas chegaram a cercar Lisboa, pondo a descoberto a necessidade de defender os arrabaldes entretanto construídos fora dos perímetros amuralhados, tanto o oriental como o ocidental.


Imagem da construção da muralha de D.Dinis (1294-1310). Para proteger os arrabaldes de Lisboa que se tinham estendido para lá da cerca velha, junto ao rio, o rei D.Dinis determinou o alargamento da antiga muralha na Ribeira, com vista a defender os mercadores que aí moravam desde o século XIII.

Trecho da Muralha de D.Dinis (1294-1310). Situada nos pisos inferiores do edifício do Banco de Portugal, foi desenterrada e mantida depois dos trabalhos arqueológicos na construção do parque de estacionamento.

Muralha de D.Dinis (1294-1310) Trecho existente no interior do Museu do Dinheiro, no largo de São Julião. Foi posto a descoberto, na área do saguão, um troço rectilíneo, sem interrupções com cerca de 40 metros de comprimento, 1,5 de espessura no topo e uma altura conservada máxima de 3,5 metros. Integrável no plano urbanístico da Lisboa pré pombalina, e coevo da última fase de utilização da muralha, foi igualmente identificado um conjunto de edifícios que se pensa estar relacionados com a então Rua da Calcetaria.

Muralha de D.Dinis (1294-1310). No interior do Banco de Portugal, podemos encontrar vários dos seus trechos. Foi organizado um museu com os achados arqueológicos, incluindo esqueletos medievais, encontrados junto à muralha.

MURALHA FERNANDINA (1373-1375):

Governando El-Rei D.Fernando I, vendo este a necessidade de que padecia Lisboa de fortificação, danificada a cerca velha por prejuízos que pouco antes lhe haviam feito os castelhanos, mandou cercar a cidade de novos muros e altas torres no ano de 1373, por conselho de João Anes de Almada, seu Vedor da Fazenda. Com tanta rapidez se operou na edificação desta muralha, que esta se concluiu no ano de 1375, apenas dois anos após o início da obra.

Contava toda a muralha cinco mil passos de circunferência, e a cidade de muros-a-dentro, três mil e cem de comprido, e mil e quinhentos de largo. Nela havia 46 portas, e 77 torres que a defendiam, algumas das quais ainda se vêem em diversas paragens mais ou menos arruinadas, com seus pedaços de muro em igual estado. Esta muralha foi fundamental na defesa de Lisboa durante o cerco castelhano de 1384, quando mesmo com um forte exército de cerca de 20.000 homens o rei Juan de Castela não obteve nenhum sucesso, mesmo após inúmeras tentativas de assaltos frontais às muralhas e torres de Lisboa.


Torre do Jogo da Péla (muralha Fernandina, 1373-1375). Construída em pedra no morro de Sant´Ana fazia parte da muralha Fernandina que corria da Porta da Mouraria , até junto à Igreja da Pena (Porta de Sant´Ana), daí descia para Valverde (Porta de S. Antão), passava a norte pelo Rossio e subia a S. Roque. Tem esse nome porque um pouco mais acima num descampado, onde hoje se situa a rua da Palma, existia um campo onde a fidalguia jogava o jogo da Péla desde o século XIV.

Torre de São Pedro (Muralha Fernandina, 1373-1375). O pano de muralha visível ligava a Torre de São Pedro ao troço da cerca que inflectia em direcção ao rio. Era um dos limites da Judiaria de Lisboa.

Muralha Fernandina (1373-1375). Trecho junto ao pátio de D.Fradique, ainda existente.

Muralha Fernandina (1373-1375). Continuação da muralha junto ao palácio de D.Fradique. Esse nobre do século XVI acabou reutilizando uma das torres da muralha, adicionando-a ao seu palácio.

Cubelo do Corpo Santo (Muralha Fernandina, 1373-1375). À direita na foto, onde tem um pequeno miradouro ajardinado e com uma pérgula, é na verdade um cubelo, uma torre defensiva mais baixa. Essa zona se encontrava mesmo junto ao leito do rio no século XIV pelo que esse cubelo tinha a função de baluarte marítimo protegendo contra navios que tentassem acostar.

Muralha e resquícios da torre de Santo André (Muralha Fernandina, 1373-1375). Esse trecho desce pela rua da Trindade para o actual Largo do Chiado, no extremo ocidental do qual se abriam as Portas de Santa Catarina. Corria desde aí até o actual Cais do Sodré, abrindo sucessivamente na Porta do Duque de Bragança, Porta do Corpo Santo, Porta dos Cubertos e Porta dos Corte Reais, hoje todas desaparecidas.

Muralha Fernandina (1373-1375). Essas ruínas pertenciam ao trecho que atravessava o Beco de São Luís e o Mosteiro da Encarnação. Hoje em dia está tapada por um condomínio fechado e não está acessível ao público (infelizmente).

Vista exterior da porta de Santa Catarina. (Muralha Fernandina, 1373-1375). Esse trecho está hoje inserido num jardim de um condomínio fechado, sem acesso ao público. Mais outro negócio obscuro e altamente lesivo dos interesses dos habitantes de Lisboa, tudo com o beneplácito da Câmara Municipal!

Cerca da Mouraria (Muralha Fernandina, 1373-1375). Vinda do Castelo de São Jorge e da Torre de São Lourenço, o lanço da muralha atravessa o bairro da Mouraria e descia até ao Martim Moniz onde ligava à Torre do Jogo da Péla, mostrada numa foto anterior.



Torre de Santa Ana (Muralha Fernandina, 1373-1375). Localiza-se na Calçada do mesmo nome, abaixo da Igreja de Nossa Senhora da Pena, quase em correspondência da Travessa do Monturo do Colégio e do Beco de São Luís. A muralha, que ainda existia no ano de 1572, continuava daqui até à Porta de Santo Antão. Em 1762 existia aqui uma pequena ermida, chegada ao muro das Religiosas Comendadeiras de São Bento de Avis.

Trecho do Terreiro do Trigo (Muralha Fernandina, 1373-1375). Cercava aquela praça pela banda de cima, para a qual abriam sucessivamente a Porta do Arco das Pazes, a Porta da Moeda, a Porta dos Barretes, a Porta da Ribeira e a Porta da Portagem. Seguia pela beira-mar, mais ou menos pelas actuais Rua dos Bacalhoeiros e Rua do Terreiro do Trigo, abrindo na Porta Nova do Mar, Porta da Judiaria, Postigo de Alfama, Porta do Chafariz de Dentro e Postigo da Pólvora, a última porta da cidade da banda do mar. Daqui seguia pela Porta da Cruz, até o Mosteiro de São Vicente de Fora, onde se abria o Postigo do Arcebispo e a Porta de São Vicente.

Torre de Santa Catarina (Muralha Fernandina, 1373-1375). Hoje no interior dos Armazéns comerciais do Chiado, esta torre defendia a porta do mesmo nome, onde estava uma imagem dessa santa, que hoje se pode ver na Igreja da Misericórdia, ali perto.

Torre de São Lourenço (Muralha Fernandina, 1373-1375). Ligada ao castelo de São Jorge por uma escadaria, nessa torre couraça começava o trecho da muralha que cercava a Mouraria. Havia uma porta com o mesmo nome que foi demolida em 1838 para permitir o alargamento da rua. Ainda hoje se pode ver uma parte do seu arco numa das paredes da torre.

Postigo da Pólvora (Muralha Fernandina, 1373-1375). Era a última porta da cidade do lado do mar, ficando contígua à Cadeia da Galé, e parte da Ermida da Boa Nova ou de Nossa Senhora do Rosário que se construiu em 1748, em lugar da que desfizeram para edificar o Arsenal do Exército.

Porta da Judiaria (Muralha Fernandina, 1373-1375). A Porta da Judiaria ou Porta do Rosário, hoje conhecida como Arco do Rosário, ainda hoje sobrevive, defronte ao Terreiro do Trigo, dando acesso à Rua da Judiaria. Por aqui se vinha da Igreja Paroquial de São Pedro de Alfama sair à Ribeira. Na parte superior deste arco há uma ermida de Nossa Senhora do Rosário, cuja escada e pequeno adro lançaram por terra no ano de 1837.

Muralha Fernandina (1373-1375). Trecho encontrado durante as obras de remodelação do Hotel do Corpo Santo. Hoje a muralha delimita vários dos quartos e mais à frente, esta estrutura termina num grande quadrado, a Torre de João Bretão, referenciada por Fernão Lopes, fundamental para impedir possíveis entradas de navios castelhanos aquando do cerco de 1384.

ABANDONO E FALTA DE PROMOÇÃO NO SÉCULO XXI:

Durante grande parte dos últimos 200 anos, várias portas e torres da muralha foram demolidos, especialmente após o terramoto de 1755. A pressão do crescimento da cidade no século XIX também contribuiu para a destruição de grande parte do conjunto. Mas o maior atentado acontece nos nossos dias, onde o abandono, a incúria e o desleixo na sua preservação continuam a fazer estragos. A edilidade não toma nenhumas acções de manutenção nem de promoção e ao invés ainda patrocina a continuação da destruição dos trechos remanescentes, como em Santa Apolónia junto à estação ferroviária ou o recentemente descoberto alambor no bairro da Graça que será irremediavelmente perdido com a construção de um elevador funicular. Estas atitudes fazem parte de um hábito mais geral de completo desprezo pelo património medieval português por parte das autoridades políticas e culturais do país aos quais nós administradores Lusos aqui no Repensando daremos toda a visibilidade possível, para além das óbvias violentas críticas, independentemente dos partidos políticos que estiveram à frente dos destinos das cidades históricas em Portugal, visto que estas vergonhas vão para além de qualquer regime político. Um país que não toma conta dos seus tesouros históricos é um país sem qualquer futuro, acrescentando a isso o problema da pobreza de mentalidades, e toda a gente sabe que pior que ser pobre de dinheiro...é ser pobre de espírito!


Mapa das várias muralhas de Lisboa. O crescimento da cidade entre os séculos XII e XIV é bem notório comparando o traçado da cerca velha com a muralha de D.Fernando.

Desenho de Lisboa no século XVI: o castelo de São Jorge, o paço real da Alcáçova (hoje desaparecido) e parte da muralha medieval. A cerca ainda hoje desce do morro do castelo em direcção ao bairro do Martim Moniz. Nessa foto pode-se ver a torre de São Lourenço, à esquerda, que ainda se encontra de pé e cuja foto está mais atrás..

- Pedro Alves.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS:


SANTA APOLÓNIA - SONDAGENS ARQUEOLÓGICASPLANO GERAL DE DRENAGEM DE LISBOA - RELATÓRIO FINAL - Lisboa, Março de 2017


BIBLIOGRAFIA:


Castro, João Baptista de (1763). Mapa de Portugal antigo e moderno. [S.l.]: Francisco Luiz Ameno. 77 páginas

Moreira, António Joaquim (1838). «Antigas Portas de Lisboa, e sua Cerca». O Panorama. II (78)



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