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A evolução da população na Europa medieval

Foto do escritor: InfoBlog de JDInfoBlog de JD

Atualizado: 12 de out. de 2021

Um artigo original de 'Repensando a Idade Média',


Cena da vida quotidiana de uma cidade medieval, Fernão Lopes dá-nos uma descrição muito vívida da cidade de Lisboa no século XIV até 1369: "Esta cidade é uma grande estação das mais desvairadas gentes, assim locais como estrangeiros (...) Aragoneses, Franceses, Genoveses e Prazentins (de Piacenza, na Itália), Milaneses, Venezianos. Assim de Ingreses, da Flandres, da Dinamarca e da Livónia (Báltico), (...) assaz uma cidade muito bela, à beira do rio onde toda a indústria se pode encontrar". Crónica do rei D.Fernando, capítulo 16.

A evolução da população na Europa medieval: a vida nas cidades e no campo.

Muitos já me tinham perguntado sobre os números fiáveis de habitantes de determinado país durante o Medievo e de como se espalhavam esses habitantes pelos territórios, quantos viviam em cidades ou no campo? E será verdade que houve um crescimento bastante acentuado da população total europeia até ao fim da Baixa Idade Média?


Esperemos que este artigo venha desfazer algumas dúvidas e levantar tantas outras questões. Ressalvo desde já que os números apresentados são meras estimativas que consegui reunir analisando os dados disponíveis das mais variadas fontes, tanto medievais como os estudos mais modernos sobre o tema, compilando-os numa tabela que disponibilizo mais abaixo no final do artigo. Para a reunião das fontes compiladas quero também agradecer a ajuda preciosa do José Luís Pinto Fernandes, outro dos administradores da página.


A generalidade dos académicos aceita que o longo período entre os séculos IX e XIV se definiu por um período de crescimento populacional na Europa, o número de habitantes subiu, a urbanização expandiu-se com o nascimento de novas cidades e vilas e o aumento da população residente nas já existentes. A inovação tecnológica do período e as mudanças institucionais que lhes seguiram suportaram o progresso material desses 5 séculos e lançaram as bases de uma identidade europeia de um ponto de vista político, social e cultural. Os historiadores demográficos sugerem que o total de população no século X começou a crescer a um ritmo lento após uma evolução decrescente desde o século V que, não sendo constante no tempo nem nas regiões estudadas, foi marcadamente de cada vez maior escassez de habitantes. Um segundo período desde o ano 1000 até 1300 assistiu-se ao inverso, um crescimento populacional para o dobro dos números prévios. As cifras totais para a Europa no seu conjunto são mais ou menos conhecidas, mas a demografia para cada reino ou região específica são mais difíceis de calcular, no entanto podemos assumir com um pouco de segurança que tiveram a mesma média de evolução da população total.


Esse crescimento passou a ser mais acentuado após o ano de 1100, em paralelo com o incremento comercial e económico geral do continente e com as mudanças climáticas e consequente aumento da temperatura média, e é precisamente através destes indicadores que podemos extrapolar o crescimento, medindo a consequente explosão da procura de recursos naturais, aumento dos meios de produção (que por serem arcaicos estiveram sob grande pressão) e a sobre-exploração dos solos férteis, numa altura em que os hábitos alimentares estavam entrincheirados nos cereais e na carne. Os solos, especialmente os do Sul da Europa depressa ficaram erodidos e “cansados” (e nem mesmo o aparecimento de novas técnicas de plantação, como o pousio, conseguiram resolver completamente a situação), em pleno século XIII por exemplo, calcula-se que para uma população de 2000 pessoas eram precisos cerca de 3000 hectares de terreno os quais produzissem 1000 toneladas de cereais, tornando-se portanto fatal a subida dos preços. Documentação inglesa mostra que desde 1150 até 1315 a subida dos preços dos cereais nunca parou e que entre 1175 e 1225 provavelmente triplicaram. Em Paris, de 1229 a 1280 o preço do pão quadruplicou.


É claro que esta alta de preços se ficou a dever não só à escassez ditada pela insuficiência de produção em relação ao crescimento populacional como sobretudo aos jogos de um capitalismo mercantil, incipiente e ingénuo, se calhar nem merecedor desse nome, mas em todo o caso actuante e controlador das regras de mercado. O século XIII assinala também o aparecimento da Burguesia e entre os primeiros burgueses, porque os mais ricos dessa classe, acham-se os comerciantes de géneros alimentares, quer os grossistas, quer os retalhistas e eis assim exposto o quadro dos primórdios da centúria de 1300.


Bispo de Reims abençoa uma feira numa localidade francesa. O incremento das chamadas cidades com feira mostram como o crescimento populacional entre os séculos XI e XIII teve impacto na vida urbana: com o crescimento populacional a demanda de alimentos e de outros produtos explodiu, daí os monarcas europeus e as grandes autoridades eclesiásticas começaram a dar autorização para a realização de feiras semanais dentro dos burgos, dinamizando o comércio.

ALTO MEDIEVO:

Não há muita informação directa proveniente de fontes seguras sobre o crescimento populacional da Alta Idade Média, sabemos que nos séculos VII e VIII a densidade era baixa em praticamente todo o continente europeu mas após o ano 700 verifica-se alguma recuperação com o aumento das áreas habitadas nas cidades, o aparecimento de algumas (ainda poucas) novas vilas e urbes e com o assentamento em regiões antes desérticas, especialmente no leste e no norte da Europa. No entanto números quantitativos não existem e são praticamente impossíveis de atingir se só nos basearmos nas fontes dispersas de títulos de propriedade. Qualquer tentativa de medir a população até aos séculos X ou XI vem ou da comparação da densidade de habitantes dos centros urbanos em relação a uma região mais alargada ou partindo das cifras de 1300 caminhando para trás através do cálculo de percentagens plausíveis: por exemplo, temos um conjunto de 100 milhões de habitantes totais em 1300 e assumirmos uma taxa de crescimento de 2 por mil então esses valores seriam de 50 milhões no ano 1000, e com uma taxa de 3 por mil seriam 40 milhões.


Em termos de números assistimos a uma clara trajectória ascendente em diversas regiões:


Inglaterra – A população que estava em pouco mais dos 1,5 milhões em 1066, cresceu estimadamente até entre 3,7 e 4,5 milhões (outras estimativas colocam esses números até 5 a 7 milhões) em 1300. Embora os números para o século XIV venham de fontes após a primeira epidemia de Peste Negra, para antes da Peste temos de nos apoiar nos níveis de mortalidade da doença, da proporção de crianças nascidas no período e na percentagem de descida dos impostos colectáveis.


Itália – A população dos diversos ducados, repúblicas e cidades-estado cresceu entre os cerca de 6 milhões de habitantes no ano 1000 até 12,5 milhões em 1350 (números pré-Peste).


França – Em 1328, acredita-se que viveriam em França cerca de 13,6 milhões de pessoas (numa área territorial mais pequena do que a actual) ou entre 14 e 16 milhões segundo outras fontes. A historiografia francesa avança com números entre os 18 e os 20 milhões de habitantes (na área do território actual), mas essas últimas cifras não podem ser avaliadas da mesma forma visto que englobam territórios que ainda não pertenciam a França nesse período.


Castela – Em virtude da Península Ibérica se encontrar dividida em diversos reinos e devido a uma menor densidade populacional em consequência da guerra de Reconquista os números são mais modestos. Por volta do ano 1000 e ainda antes de ser elevada a reino Castela tinha uma população de cerca de 250 mil habitantes, que cresceria bastante com a incorporação do reino de Leão em 1037 e a expansão para sul, levando a que subisse para os 3 milhões em 1300 e atingisse o máximo de cerca de 4 milhões em 1490.


Portugal – No ano 1000, ainda enquanto Condado Portucalense, a população atingiu entre 100 e 150 mil habitantes num território contido entre os rios Lima e Douro, não chegando para lá de Vila Real. Com a incorporação de novos territórios, a expansão para sul e o fim da Reconquista em 1249, a população explodiu chegando a cerca de 1,5 milhões em 1300. A partir daí houve um retrocesso assinalável com a crise de inícios do século (fome e guerra entre 1314 e 1340) e com a chegada da Peste Negra que baixaram os habitantes para menos de 1 milhão em 1364. Logo depois uma recuperação até à passagem para o século XV (um pouco mais de 1 milhão após 1400), voltando a derrapar entre 1410 e 1439 na linha do milhão de pessoas para cair abruptamente até 1450, a década mais despovoada da História de Portugal, à volta de 800.000 habitantes, como se podem descobrir nas lamúrias dos documentos discutidos nas Cortes alertando o rei para a falta de gente no reino. A população recuperaria novamente até 1500 para os valores de 200 anos antes: cerca de 1,5 milhões de pessoas.


Ainda no tocante à Península Ibérica, especificamente no caso Português, os académicos apontam para o sobrepovoamento da região Entre Douro e Minho (território do Condado Portucalense) com uma população entre 150 e 200 mil pessoas no ano 1000, como uma das causas essenciais tanto do sucesso da Reconquista para sul como do povoamento das regiões recém-conquistadas ao longo dos séculos XII e XIII. Outra das causas seria a expansão dos mosteiros senhoriais no Norte do país e a explosão do monacato feminino no século XII. De referir também que a expansão demográfica causou fenómenos sociais curiosos, como o cada vez maior número de homens da nobreza que não se conseguiam casar, situação reflectida nas Cantigas de Amigo onde os casos de homens solteiros seduzindo mulheres casadas são um tópico recorrente.


Tabela de excel feita pelo autor deste artigo com os números da evolução populacional por país e por século. As iniciais N/D significam "Não definido". Clique para abrir o PDF.

URBANIZAÇÃO:

Os académicos têm sugerido que o crescimento dos centros urbanos foram o símbolo maior da evolução demográfica medieval e é assumido que a taxa de urbanização estava subindo desde pelo menos o ano 900. Os resultados de uma recente contagem estimam que houvessem 74 cidades com mais de 10.000 habitantes por volta do ano 1000 saltando para 156 dessas urbes no ano 1300. No mesmo período a taxa de urbanização passou de 5,8% do total da população para 6,5%: um aumento muito modesto e que mostra como a grande maioria das pessoas viviam nas zonas rurais. No entanto se compararmos o ano de 1300 com os anos de 700 ou 800 verificamos que a taxa estava num valor ainda mais baixo, nos 3,5%. Se para 1300 considerarmos as cidades com mais de 15.000 habitantes então o valor sobe para 210 urbes. As regiões com maior densidade populacional eram a Flandres e a Itália, com 18% das suas populações vivendo em cidades com mais de 10.000 pessoas. A Península Ibérica também tinha um alto nível de urbanização: 12%, mas aqui isso era verdade mais para o território Muçulmano do Al-Andalus, mais mercantil, logo com níveis de urbanização maiores, e o norte Cristão, rural e de pequenas aldeias e vilas.


Tabela com os números do tamanho de território, densidade populacional e taxa de urbanização para vários países europeu em 1300. Fonte: P. Malanima, Pre-modern European Economy, chap. I.

Noutras regiões como a actual Holanda ou a Escandinávia não existiam cidades com mais de 10.000 habitantes antes de 1300. Como se pode constatar no mapa 3 (ver fotos do artigo) um país densamente povoado como Inglaterra ou França podia não exceder a média europeia de urbanização, enquanto pelo contrário a Península Ibérica era fortemente urbanizada mas escassamente povoada no geral, com a excepção de Portugal que apresentava números bastante elevados tanto de densidade populacional como de urbanização, chegando a 14 habitantes por km2 e a uma taxa de pessoas vivendo em cidades de 3,6%, superior à Alemanha, por exemplo.

Em Castela por seu turno a vida urbana apresentava um nível mais débil do que em Portugal ou em Aragão, ainda assim, o processo de migração do campo para as cidades ajudou a aumentar o peso das cidades no total da população de cada país, acompanhado pelo desaparecimento de povoados mais pequenos e a concentração desses habitantes em centros urbanos de maior dimensão. O mundo urbano também se viu afectado por muitas das dificuldades por que passava o mundo rural: epidemias recorrentes, carestias alimentares, acções bélicas, oscilações de preços e salários, incremento da pressão fiscal e agitações sociais, sem embargo, as cidades acomodaram-se às novas circunstâncias e recuperaram rapidamente.


Em 1300 a densidade populacional era já alta na cintura da Europa Central desde a Itália, passando por França, Alemanha, Flandres e Inglaterra. Indo tanto para oeste até Espanha e Portugal como para leste até à Polónia, Hungria, Balcãs e Rússia a densidade declina substancialmente (ver próxima foto). Curiosamente Portugal apresenta altos níveis que de densidade quer de urbanização, para um país do seu tamanho. Fonte: P. Malanima, Pre-modern European Economy, chap. I.

CRISE POPULACIONAL DO SÉCULO XIV:

Os dados induzem a que possamos admitir o início da grande crise populacional ainda nos finais do século XIII, a explicação malthusiana da cada vez maior escassez de recursos devido à pressão demográfica parece válida enquanto mecanismo desencadeador. Houve depois aceleradores da crise: uns inteiramente acidentais como a deterioração climática e outros conexos com a causa primeira como as grandes fomes, as epidemias endógenas, a fuga dos campos, a proletarização das cidades, a multiplicação dos mendigos e o aumento da criminalidade. A par de tudo isto a subida do custo de vida com a afirmação da moeda e do peso da inflação, o incremento das leis do mercado, a irrupção da burguesia, o empobrecimento das camadas baixas da nobreza, a desautorização dos monges e do clero secular em benefício dos mendicantes e dos pregadores de rua. Em suma, insegurança e desordem social, e depois como corolário de todas as desgraças vieram as guerras...que as houve e muitas.


Tabela com os vários totais da população europeia entre os anos 1000 e 1500 variando consoante os académicos e os métodos de cálculo usados. (Os números estão na ordem dos milhões).

A GUERRA:

Os conflitos militares, considerada no medievo como a fonte de todos os males, afectaram directamente as populações, mesmo que essas lutas fossem muito localizadas, geralmente de curta duração e cujas expedições armadas não implicavam um número de recrutamento e de baixas capaz de provocar uma diminuição demográfica duradoura. Maiores foram as devastações que sofreu a economia em geral e a agricultura em particular: os bandos de mercenários, cuja única actividade era a guerra, espoliavam os camponeses, menos protegidos que os habitantes urbanos em caso de ataque, em virtude destes últimos puderem proteger-se dentro das vilas e cidades muralhadas.


Gráfico de evolução da população durante o Medievo, as linhas a picotado são os tectos mínimo e máximo para o período em causa, embora o nível de recuperação na segunda metade do século XV será sempre um motivo de controvérsia quanto aos números.

O CLIMA E AS CRISES AGRÍCOLAS:

A um período de aumento das temperaturas registada entre os séculos XI e XIII, propício a um aumento de produção agrícola de certos produtos como o trigo, o centeio ou o milho miúdo, seguiu-se uma mudança climática com baixa de temperatura em média de entre 2 a 3 graus, os fenómenos extremos ocorrendo com maior quantidade, como as chuvas e nevões intensos fora de época ou a subida do nível de humidade no ar tiveram consequências desastrosas nas plantações cerealíferas. Tal flutuação prejudicou o desenvolvimento agrícola em latitudes mais a sul como na Península Ibérica ou em Itália e teve um impacto catastrófico em regiões como França, Inglaterra e Alemanha, onde o frio se instalou com ainda maior gravidade, pois o problema para o cultivo dos cereais, componente básico da alimentação diária da população mais pobre, não é a aridez estival mas sim a crueza e a duração prolongada dos Invernos. A subida dos preços que se seguiu à escassez de alimentos causou fomes generalizadas um pouco por toda a Europa a primeira década dos anos de 1300. No caso Ibérico, as fomes não eram algo novo para as sociedades locais visto que desde a segunda metade do século XIII a frequência de crises alimentares aumentou mesmo que até 1331-1333 não fossem alarmantes. A partir desses anos surgiu uma crise alimentar de enormes proporções, os cronistas Catalães qualificaram os 12 meses de Junho de 1333 ao Solstício de 1334 como "o mal any primer". Os anos de 1343 a 1346 foram particularmente críticos, segundo o cronista Garcia de Salazar: "morreu muita gente de fome que andando pelos caminhos caíam mortas dizendo "dêem-nos pão por amor de Deus". Nas cortes de Burgos em 1345 ficaram registadas "a grande mortandade no gado e a perda das plantações causadas pelo forte temporal que se fez de grandes neves e muito gelo pelo que as carnes estão muito encarecidas e os homens não as podem comprar e o pão e o vinho estão mais caros a cada dia". Estes documentos confirmam a existência de uma oscilação climática brusca, prelúdio de uma pequena idade do gelo, caracterizada por verões curtos e húmidos e invernos mais frios e prolongados que se iniciaram nos dois últimos séculos da Idade Média. Por fim esta carestia de alimentos teve um impacto nas defesas naturais das populações, pois quem sobreviveu à fome logo se viu obrigado a enfrentar um inimigo para o qual os seus sistemas imunitários não estavam preparados.


Tabela das maiores cidades europeias em número de habitantes. Uma nota importante: a cidade de Constantinopla não vem na lista mas estaria no primeiro lugar excepto nos século IX e X quando Córdoba seria a maior cidade europeia e de XIII a XV quando Paris tomou a dianteira. Já no século XI seria a capital do Império Romano a maior cidade, no seu auge teria mais ou menos 400.000 habitantes.

PESTE NEGRA:

Outra grande causa desta queda abrupta foi a já tão conhecida Peste Negra, ou Peste Bubónica. Os efeitos desta epidemia é o que mais aqui nos interessa lembrar: “calamitoso”, “trágico”, “catastrófico”, são os adjectivos que os historiadores costumam escrever. É certo que esses efeitos não foram por todo o lado uniformes: morreu-se mais nas cidades do que no campo, mais nas residências comunitárias do que nas casas de família, mais nos centros de vida social intensa do que nos sítios pacatos. E isto tanto em termos absolutos como em termos relativos. Houve oscilações de mortalidade de lugar para lugar, tanto como de país para país, conforme o clima, a higiene, o nível alimentar, os hábitos sociais e o deflagrar precoce ou tardio da doença.


Admite-se, por exemplo, que em Navarra o número de mortos atingiu os 60% em algumas comarcas. Em Aragão terá ficado nos 40% e em Maiorca pelos 25%. Para o resto da Europa aduzem-se números também oscilantes: entre os 20 e 65 %, enquanto a quebra demográfica foi em média de 33,3%, o que é um valor enorme, tanto mais impressionante quanto é sabido que isso se processou no espaço de poucos meses. Os registos que ficaram da hecatombe acusam aturdimento, desespero e impotência, falando de números inacreditáveis de mortos: de 2/3 a 9/10 da população.

Estudar os índices de natalidade e mortalidade seriam um das primeiras tarefas de um historiador para explicar não só as variações de povoamento como também as condições de vida das pessoas. Em Inglaterra, os números são impressionantes a respeito das taxas de mortalidade, até para períodos antes da Peste. Numa população de 1700 lavradores foreiros da Abadia de Westminster ocorreu, entre 1292 e 1347, uma média de 90 mortes por ano, ou seja, uma taxa de mortalidade na ordem dos 52,9%. Note-se que se trata de mortes de adultos cabeças de casal ou titulares de emprazamentos rústicos. Crianças, mulheres e velhos não entram no cômputo. Isto mostra que em Inglaterra, nesses anos, a taxa de mortalidade bruta deveria ultrapassar, nos campos a cifra dos 30%, cálculo extremamente optimista, pois nada repugnaria que os valores de mortes de crianças atingissem os 25%. Estas e outras considerações levaram o historiador Jacques Heer a escrever: “as condições de vida eram (muito) precárias, desastrosas do ponto de vista biológico. Nos fins da Idade Média a mortalidade na Europa Ocidental era a de um povo subalimentado, exposto a todos os açoites, sujeito a condições duríssimas”. Valeram então os índices de natalidade que se mantiveram altíssimos para que a extensão da desgraça não tivesse sido ainda maior.


- PEDRO ALVES.


Black Death at Tournai, 1349. Image credit: Bibliotheque Royale de Belgique/Bridgeman Images


BIBLIOGRAFIA E NOTAS ADICIONAIS:




FONTES BIBLIOGRÁFICAS:


"Population in Europe". In Cipolla, Carlo M. The Middle Ages. The Fontana Economic History of Europe. Collins/Fontana. pp. 25–71.


Berglund, B. E. (2003), "Human impact and climate changes—synchronous events and a causal link?" (PDF), Quaternary International, 105: 7–12, doi:10.1016/S1040-6182(02)00144-1.


Russell, Josiah Cox (1972). Medieval regions and their cities. Studies in historical geography. Indiana University Press. p. 122. ISBN 0253337356.


Russell, J.C. (1958). "Late Ancient and Medieval Population". Transactions of the American Philosophical Society. 48 (3): 1–152. doi:10.2307/1005708. JSTOR 1005708. p. 106.


Herlihy, David (1989), "Medieval Demography", in Strayer, Joseph R., Dictionary of the Middle Ages, 4, New York: Scribner, ISBN 0-684-17024-8.


Biller, Peter (2001), The Measure of Multitude: Population in Medieval Thought, New York: Oxford University Press, ISBN 0-19-820632-1.


Hollingsworth, Thomas (1969), Historical Demography, Ithaca, NY: Cornell University Press, ISBN 0-8014-0497-5.


Sousa, Armindo de. "Condicionalismos Básicos" in "A Monarquia Feudal, 1096-1480", in "História de Portugal", vol. IV, coord. José Mattoso. Editorial Estampa, 1997, pp.275-301.


Marques, A. H. de Oliveira. “Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV”, in "Nova História de Portugal", dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol. IV. Editorial Presença, Lisboa, 1986, p. 15-40;


Antón, José María Monsalvo (Coord.). "Historia de la España Medieval". Ediciones Universidad de Salamanca, Salamanca, 2014.




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