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A arte ancestral do fabrico do Pez ou Breu (alcatrão)

Atualizado: 30 de jun. de 2021

A fabricação do Pez ou Breu (denominação ancestral), ou Alcatrão (denominação moderna), para a Calafateria dos navios e barcos de madeira (denominação ancestral) ou a Impermeabilização dos navios (denominação moderna).



"Profissão de Calafate: Uma das prováveis origens etimológicas do vocábulo calafetar, ou arte do calafeto [introduzir nas junturas da madeira estopa embebida em pez ou breu] poderá encontrar-se no latim “calefacere” [aquecer], pois calafetar (e brear)

trata-se de fazer derreter o alcatrão ao fogo, tornando-o deste modo capaz de embeber os fios de estopa enrolados, e de domar-se aos restantes utensílios do calafate. Uma das operações necessárias para que os navios de madeira mantivessem o bom estado de conservação do seu costado e convés, era, sem dúvida o bom calafeto. […] Era executada desde sempre por profissionais que se chamavam calafates, constava da aplicação de um ou mais cordões de estopa, nas fendas que sempre existem, quando se unem duas peças de madeira. Sendo simples a explicação, era um trabalho que requeria bons profissionais, experientes e sabedores da sua profissão. Desde a escolha da estopa que, como sabemos, provém

da separação do linho, à preparação do fio que se vai aplicar, e à escolha do ferro, isto é, da ferramenta que é necessária para o tipo de junta, tudo requer atenção e sabedoria do calafate. O trabalho precisa ficar perfeito e o navio estanque da

quilha à borda, como irá constar na documentação oficial que será passada pela Capitania do porto, quando for efetuado o despacho de partida para a viagem.

Está também a cargo dos calafates a abertura dos furos para a colocação de pregos ou cavilhas, principalmente quando se trata de furação a ser feita no costado ou no convés dos navios.

Da ferramenta dos calafates, pode distinguir-se a coleção dos ferros de meter e de encalcar estopa, de abrir e de limpar as juntas, bem como as carochas de brear.

O martelo utilizado pelos calafates é uma peça de ferramenta que pela sua forma requintada mais parece de ornamento do que de trabalho. Chama-se macete de calafate, é de madeira muito rija e de forma especial, para produzir som, quando dá a pancada. É esse som que fornece ao calafate, a indicação de que a estopa está ajustada o suficiente, para dar a vedação que se deseja”.

António Marques da Silva, Traços de construção naval em madeira. Mastreação e aparelho do navio, Ílhavo, Câmara Municipal/Museu de Ílhavo, 2017, p. 121."


A profissão de Calafate era exercida tanto em terra quanto em água. Era, neste último caso, numa definição possível “um oficial da guarnição dos navios antigos de madeira que tinha a seu cargo, o casco do navio, o leme, as bombas e o calafeto”. Por seu turno, o calafeto, a arte em que se especializavam estes homens, “consistia em tapar as “fendas, junturas ou buracos” do tabuado dos pavimentos com estopa alcatroada bem calcada e cobri-las com breu, a fim de preservar a chapa da humidade da água”

Cf. António Marques Esparteiro, Dicionário Ilustrado de Marinha, 1962.


Uma das mais antigas referências privilegiando os mestres calafates, encontramo-la num documento da Nação portuguesa nascente, confirmada esta – e o seu rei, de

pleno direito - pela bula Manifestis probatum est, do Papa Alexandre III, datada de 23 de Maio de 1179. Com efeito, como no-lo recorda Júlio de Castilho “foi o espírito naval

dos nossos povos reconhecido e sancionado por el-rei D. Afonso Henriques […]. No foral que deu à sua Lisboa em 1179, concede el-Rei a certos oficiais náuticos o foro de cavaleiros, com a mira no desenvolvimento da marinha […]:

“De navio verdadeiramente mando que o alcaide (comandante ou patrão) e dois espadeleiros (spadeleiro, spadaleiro ou spitaleiro era o remeiro, no tempo em que certos barcos grandes caminhavam a remos) e dois proeiros (homens que à proa do navio dirigiam o andamento dele), e um petintal (calafate, fabricador de embarcações) hajam foro de cavaleiros”

Júlio de Castilho, A Ribeira de Lisboa, Vol. I, Lisboa.


Os calafates são também são mencionados numa das populares “Cantiga de Santa Maria” - narrativas poéticas de milagres atribuídos a Nossa Senhora - escrita em língua galegoportuguesa, e atribuída ao avô do nosso rei D. Dinis, Afonso

X, o Sábio [ou o “Astrólogo”] (1221-1284), rei de Leão e Castela.

Na composição catalogada com o número 339, “De como Santa Maria guardou uma nave que não perigasse no mar”, podemos ler que esta, durante a viagem entre Cartagena e Alicante acabou metendo água. Reporta o poeta que a Virgem

Maria se manifestou tão eficiente artífice quanto o melhor dos calafates: “na nave, que não há tão sabedor / mestre nem tão calafetador / que pudesse calafetar melhor”.


Informações retiradas de "Calafates e outras profissões ligadas à actividade Marítima" Câmara Municipal de Setúbal 2019. Para mais informações detalhadas, consulte este link acima.


 

Ao contrario do que muitos pensam, a goma negra com que se impermeabilizavam os navios de madeira, não provinha do petróleo, mas sim do processamento da resina do pinheiro.


Apresento aqui uma Recriação da Técnica Ancestral da fabricação de Pez ou Breu, realizada em 2009 na localidade de 'Sierra de la Demanda Burgalesa', que se encontra junto a la 'Sierra de Neila' em Espanha.


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